A luz da verdadeira religiosidade
está provisoriamente compartimentada na Terra. Iludem-se os filhos pelo falso
brilho e, aprisionados nas religiões que praticam, consideram-se
"salvos". Não são muito diferentes das mariposas atraídas cegamente
pela luminosidade das lamparinas nas varandas da casa do sinhô. Facilmente se
afogavam no azeite ou caíam ao solo pela oleosidade que paralisava suas delicadas
asas, sendo rapidamente devoradas pelos répteis rastejantes ao longo da noite
que nos encobria, escravos exaustos.
Saibam que no passado de grande
opressão aos cultos ancestrais, esta preta velha, triste, ficava sentada na
entrada da senzala. Ao fundo, escutava gemidos provocados pela dor das
chibatadas dirigidas aos dorsos nus dos negros "preguiçosos". Pensava
que, se não houvesse perseguições religiosas e se cada um dos manos brancos
procurasse o caminho mais desejável para apaziguar a ânsia espiritual que os
afligia - não somente quando seus filhos ou eles mesmos adoeciam, ocasiões em
que, sem jeito, às escondidas e com pouca modéstia, pediam cura aos
intermediários dos orixás -, não haveria tanto conflito até os dias atuais.
Religiões, doutrinas, crenças, cultos
e ritos, raças, sexos, idiomas, riqueza e pobreza, saúde e doenças, alegrias e
dores, todas as diferenças psíquicas e biológicas, as peculiaridades
características das formas que animam as personalidades mortais, tudo isso nada
mais é que ilusórios degraus, os quais devem ser superados a caminho da real
escada evolutiva do espírito.
Se hoje nos apresentamos como fomos
ontem - eu, por _exemplo, com a aparência de uma preta velha, contando
"causos" e descontraindo os ânimos -, é para chegarmos mais
facilmente aos endurecidos corações da Terra. A Umbanda despersonaliza legiões
de espíritos e libera-os do apego às formas, uma vez que não importa qual é a
entidade espiritual curvada diante de seu aparelho no terreiro, e sim sua
essência missionária: fazer a caridade com Jesus.
A Umbanda molda-se à diversidade das
consciências e é ativa, dinâmica, universalista e convergente em sua parte
visível terrena, estável e firme no espaço oculto. Nessa abençoada
"mistura", todos estão evoluindo.
Graças a Oxalá, a umbanda não é mais
uma lamparina que afoga e imobiliza os que buscam a luz espiritual.
Vovó Maria Conga
Texto do Boletim Eletrônico Doutrinário do T. E. do Cruzeiro da
Luz
Ano 2012 – 21
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