Imagem do Artista Jerri D'Oxossi - Pombagira Maria Padilha
Estava imerso nos meus
trabalhos quando senti a proximidade de um dos Guias, ou melhor, de uma das
Guias. Parei para perceber melhor e escutei:
- Boa noite, moço.
- Boa noite, minha
senhora. Tudo bem? Posso ser útil em alguma coisa?
- Comigo está sempre tudo
bem, moço. (gargalhada) Obrigada pela sua gentileza.
- Não tem de quê, minha
mãe à minha esquerda.
- Sabe, moço, agradeço seu
carinho e o seu respeito, não são todos que o têm, mas estou longe de ter um
filho barbado. (gargalhada).
- Entendo, minha senhora…
- Mas tudo bem, meu filho.
(gargalhada escrachada) Sabe, moço, estava vendo a movimentação e sei que
haverá trabalhos na minha banda. Fico contente por isso, mas não consigo
entender uma coisa.
- O quê, minha mãe? –
ri-me, já pressentindo o que vinha.
- (risos) Porque é que
vocês só reverenciam a festa de Exu?
- De jeito nenhum, minha
mãe, a festa sempre é também para a senhora.
- Não é isso que estou
dizendo, moço.
- E o que é então?
- Sabe, moço, estamos à
frente e na frente de muitas coisas. Aliás, Pombagira é assim mesmo, pra
frente. (gargalhada)
- Isso eu sei …(risos),
mas não entendo onde a senhora quer chegar.
- Olha, moço, vocês
passaram por grandes mudanças e avanços sociais nos últimos tempos, não?
- Não …vou dizer que ainda
estamos passando, mas claro que muita coisa mudou.
- E vão mudar mais ainda!
(gargalhada) Bom, moço, sei que não tenho muito tempo e queria falar-lhe uma
coisa.
- Pode dizer, minha mãe.
- Apesar de atuarmos
junto com os nossos companheiros Exus, nós não somos nada parecidas com eles.
Assim, não têm por que criar um dia para Exu e reverenciar-nos também.
- Onde a senhora que
chegar?
- Antes, na vossa
ignorância, muitos nos chamavam de Exu mulher, mas hoje isso passou, pelo menos
para muitos, mas outros ainda possuem estes conceitos ou piores (gargalhada
escrachada).
- Sim?
- Então, como muitos já
sabem disso, e como também sabem o muito que fizemos por vocês e pela Umbanda,
você não acha que está na hora de criar um dia só para nós? (gargalhada).
- Acho que sim, minha mãe.
Por mim pode até ser hoje.
- (gargalhada escrachada)
Você acha, moço, que Pombagira se contenta com qualquer coisa? (gargalhada
escrachada)
- Sei que não (risos),
mas, mais uma vez, não entendi onde a senhora quer chegar.
- Olha, moço, quando vocês
comemoram um dia para os Orixás, normalmente ele tem a ver com o sincretismo
religioso que vocês fazem, certo?
- Certo, mas infelizmente
não conheço nenhum sincretismo religioso para a senhora.
- (gargalhada) É porque de
santa nós não temos nada! (gargalhada escrachada) Mas se tivéssemos, qual seria
esse sincretismo?
- Sei lá, minha mãe. Maria
Madalena, talvez (risos).
- É, podia ser engraçado…
Mas essa história de mulher da vida continuaria nos perseguindo, ou não foi por
isso que você pensou nela?
- Tenho que confessar que
foi. Peço desculpas.
- Não tem que se desculpar
não, moço, se a gente ligasse para isso, já teríamos reclamado.
- Mas então com que santa
sincretizamos a senhora, já que de santa a senhora não tem nada? (risos)
- Engraçado você, não,
moço? (gargalhada)
- Mas uma vez desculpe,
mas não posso deixar de me lembrar do que as senhoras representam na cabeça de
muita gente.
- Isso é falta de
informação ou ignorância mesmo, sabe, moço?
- Sei.
- Mas que influenciamos
algumas mudanças na mulherada, pode ter a certeza.
- Acredito. Afinal vocês
representam o arquétipo do prazer, a sensualidade e a sexualidade feminina e a
“mulherada” “tá” fogo (risos).
- Você falou bem, moço,
feminino, não da mulher. Claro que somos mais femininas que vocês, mas vocês
também possuem um lado feminino, não?
- Claro que temos, minha
mãe, assim como vocês têm um lado masculino.
- Esse não serve para
nada. (gargalhada) Mas esse lado que muitos de vocês (homens e mulheres) não
usam, deveriam usar mais, sabe?
- Sei não, minha mãe.
Pode-me contar?
- Não se faça de inocente,
moço. Eu sei que você sabe, mas você quer ver o que eu tenho para dizer e o que
tiver que dizer eu digo, moço. Acontece que é através desse lado que vocês
tanto realizam como se realizam nas coisas, pois é nele que vocês encontram o
prazer de fazer, de viver, de ser…
- Sei…
- Mas esse lado, moço, só
se desenvolve com leveza, com soltura, com sensibilidade e isso até mesmo
muitas mulheres estão a esquecer-se.
- Acredito que sim, minha
mãe.
- Mas, voltando ao assunto
que você desviou, nós não nos contentamos com qualquer coisa e nem com qualquer
dia.
- Tudo bem, minha mãe, mas
que dia a senhora quer para que possamos homenageá-las?
- Sabe, moço, se nós não
tivéssemos dado corda àquela mulherada toda, muita coisa não teria mudado.
Entendendo onde ela queria
chegar, perguntei:
- As senhoras ou o
mistério?
- Isso não importa, pois é
através dele que me manifesto, certo?
- Certo, minha mãe.
- Mas voltando onde você
me interrompeu, se nós, ou como você disse, o nosso mistério não tivesse
incitado toda essa revolução feminina, as mulheres não teriam conquistado um
dia só para elas, sabe?
- Não, mas acho que estou
a começar a perceber…
- Pois é, moço, tem
sincretismo ou arquétipo melhor para nós do que simplesmente a mulher, sem ser
santa ou outra coisa qualquer? Simplesmente mulher!
- Acho que não
.
- Então concordamos, já
que de santa eu não tenho nada, mas de mulher tenho muito …(gargalhada)
- Concordo, minha mãe…
(risos) Agora entendi, minha mãe. A senhora quer que louvemos o seu dia no Dia
Internacional da Mulher, não é isso?
- Pense, moço, na
revolução que isso seria. Homens homenageando suas mães, esposas, filhas, irmãs
e … nós. (gargalhada escrachada)
- Acho interessante, minha
mãe, mas acredito que muitos não vão gostar dessa ideia.
- Tudo bem, moço. Muitos
já não gostam da gente mesmo. (gargalhada)
- Tudo bem, minha mãe. Na
minha casa vou reverenciar esse dia como dia das Pombagiras. Está bom para a
senhora?
- Está não, moço. Porquê
só na sua casa se isso pode ser em toda casa de Umbanda? Como eu disse, nós não
nos contentamos com pouca coisa! (gargalhada)
Ri-me, mas já meio
preocupado.
- Certo, minha mãe, mas o
que a senhora quer que eu faça?
- Espalhe isso. Tenho a
certeza que alguns vão gostar e aderir, outros vão achar você um palhaço, mas
faz parte. Se nós não agradamos a todo mundo, você também não irá agradar
quando relatar para os outros o que eu lhe estou pedindo.
- Certo, minha mãe, mas a
senhora aguenta a bronca desse lado, “tá”?
- (Gargalhada) Pode deixar
moço… se você fizer direitinho, não há problema. (gargalhada) Mas agora que já
disse o que eu queria, moço, eu vou embora e o resto é com você.
- Até à próxima, minha
mãe. A senhora quer que eu ponha o seu nome no seu pedido?
- Ponha só Maria, pois não
há nome que defina melhor o que é ser mulher que Maria, não acha?
Assim a moça desapareceu
gargalhando.
E aqui escrevo essa nossa
pequena conversa, instituindo no nosso Templo o dia 8 de Março como o dia
dedicado a Pombagira. Um dia a mais dedicado a um Orixá como tantos outros que
dedicamos na nossa Umbanda.
Saravá a todas as Marias!
Salve as moças!
Laroyê Pombagira!
Não citei a autoria do texto porque não encontrei, retirado da Internet.
Imagens escolhidas aleatoriamente - fonte Internet
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