Sejam bem vindos ao Ametista de Luz,
Ametista de Luz é um blog que vem para somar, nunca para competir ou dividir. Estou aqui, à luz da Universalidade Crística que habita em meu coração. Minha religião é Deus e EU SOU LIVRE, pois EU SOU O QUE EU SOU.
Ametista de Luz, representa o caminho que venho trilhando na busca pela minha evolução como ser humano e espiritual e da responsabilidade com a vida ao meu redor. Decidi que era hora de dividir com vocês aquilo em que acredito, aquilo que tenho buscado e o que tenho aprendido. Não tenho intenções de forçar ou violentar consciências, pois cada um é livre para crer ou não e naquilo que quiser. Este blog tem por objetivo levar, agregar conhecimentos, alargar conceitos, desmistificar, permitir novos olhares sobre coisas velhas e estagnadas, descortinar coisas que para muitos ainda estão escondidas.Que através dos conhecimentos diversos das diferentes doutrinas, religiões, filosofias, teosofias que este singelo serviço de amor e luz possa iluminar as vidas de todos aqueles que o acessarem, ajudando-os assim a expandirem suas consciências rumo ao divino que todos somos.Nunca esquecendo que não existem verdades absolutas no Universo e que ninguém é dono dela.
Que eu possa partilhar com vocês essa busca e esse caminho de pura luz que emana de meus Amados Mestre Jesus, o Christo e de Mestre Saint Germain, o Avatar dessa Era da Chama Violeta ou Era de Aquário e da Equipe Espiritual que me guia.
Paz e Luz, Namastê, Axé, Aranauam, Saravá, Motumbá, Salve, Shalom, Kolofé, Shaumbra, Mitakue Oyasin...!!! Anna Aguyrre

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

A GÊNESE UMBANDISTA




     Inicialmente, podemos dizer que a historiografia oficial esclarece que a Umbanda teve sua origem com a mestiçagem de várias formas de expressão religiosa dentre os quais o Catolicismo, os Ritos Indígenas, os Cultos e os Ritos Afros e o Kardecismo. Entender a Umbanda nos dias de hoje, pressupõe o desvelamento de cada uma dessas expressões religiosas, suas articulações e desdobramentos. Eis o objetivo deste capítulo.
     No que se refere aos índios, sabemos que os portugueses quando chegaram ao Brasil encontraram uma grande multidão de nativos, depararam com uma das faces da alteridade. Estranhos aos olhos da Europa, da cor da pele às práticas rituais e dos costumes e dialetos ao panteão de deuses e espíritos, os índios encarnaram o demoníaco para a maior parte dos colonizadores. O demônio impregnado à pele dos índios e presente nos seus cultos tende a compor o imaginário do conquistador. Isso justifica a violência de um verdadeiro processo pedagógico que se expressa através do domínio e do genocídio de tribos indígenas. Um processo de extermínio de tribos, de nações indígenas inteiras, estava em marcha. Nessa época a Igreja Católica já sofria com as perdas de seus fiéis para as fileiras do protestantismo, e era alvo de críticas que denunciavam seus desvirtuamentos. Nesse contexto, converter, amansar os índios representava, também, uma forma de assegurar a influência das várias ordens religiosas na América. A igreja e a coroa dos colonizadores, a cruz e a espada, estavam mais interessadas nas riquezas das terras dos índios do que na salvação de suas almas. Seres de alma incerta, os índios se cristianizados, poderiam respeitar a autoridade sacralizada dos conquistadores europeus. O herético, o demoníaco, marca o corpo e a alma dos gentios, dos não cristianizados na fé romana.
     Hoje em dia pouco se conhece das crenças, dos rituais indígenas, quer porque muitas das nações sofreram o extermínio no primeiro momento da colonização, quer porque o ato civilizatório deixou marcas profundas na cultura dos sobreviventes. A natureza deificada constituía o eixo de toda a religiosidade dos grupos tribais.
O pajé e o feiticeiro ou xamã eram os que tinham acesso ao mundo dos mortos e dos espíritos das florestas, e geralmente a eles competia realizar os rituais de cura de doenças, expulsar maus espíritos que se alojavam nos corpos das pessoas e a missão de desfazer feitiços mandados pelos inimigos. A ingestão de alimentos e bebidas fermentadas em muitos grupos tinha uma função ritual... O uso de instrumentos mágicos, chocalhos (maracás) e adornos feitos com penas de aves, eram indispensáveis para o cerimonial do pajé. A fumaça derivada da queima do fumo também assumia um papel ritualístico importante. (SILVA, 1994, Pág. 24)
     O índio cristianizado não abandona, porém integralmente suas crenças, seus rituais. Um processo de mestiçagem ganha dimensões de resistência, de sobrevivência possível dentro do contexto da colônia e do império. As divindades dos pagãos são associadas às santidades católicas. Divindades do cristianismo romano ganham traços das culturas tribais. “Os índios amansam os brancos”, nos dizeres de José de Souza Martins.
     No século XVII outras caras do diverso chegam aos portos brasileiros. Uma gente negra, alteridade a flor da pele, que afronta a barbárie da civilização moderna, européia, branca, masculina.
     Dentre as tribos africanas de maior expressividade trazidas para o Brasil escravista destacam-se: os sudaneses que vieram da África Ocidental, dos territórios que compõem hoje a Nigéria, Benin e Togo. Estes povos aportaram principalmente na Bahia e em Pernambuco. São os povos jejes, nagôs, fanti-achantis, haussás, tapas, peuls, fulas e mandingas. Com exceção dos jejes, nagôs e fanti-achantis, os demais povos eram islamizados. Outro grupo, que exerceu grande influência na cultura brasileira é o povo banto. Eles vieram de regiões africanas hoje Angola, Congo e Moçambique. Os bantos de maior destaque são os angolas, caçanjes e bengalas. Estes grupos espalharam-se por toda a região litorânea e pelo interior de Minas Gerais e Góias.
     A catequização de negros e índios foi uma das faces do sistema de disciplinamento próprio da escravidão. É todo um processo pedagógico que tem por cerne a resignação aos maus tratos, às humilhações. O uso de sistemas analógicos tinha por escopo criar um imaginário que identifica o sofrimento do escravo com o sofrimento de Cristo. A resignação e a obediência compõem o ideário da remissão dos pecados, da ascensão aos céus. Os negros ao serem batizados recebiam nomes católicos, em geral nomes bíblicos. Com esse passaporte, espécie de salvo-conduto, tinham direito a freqüentar missa, casar na igreja, mesmo sendo em lugares reservados, descriminados. São territórios símbolos do “aparthead”, do confinamento, de andanças do impuro, do podre dos humanos/inumanos. Assim como os indígenas, os negros recobrem suas divindades de epiderme branca, vestem de santo as Entidades negras. Os rituais afros são embalados pela monotonia das orações da Santa Madre Igreja.
      No Brasil a magia da religiosidade afro sofria a repressão dos representantes da fé instituída, embora em outros momentos era objeto da benevolência das irmandades religiosas. Danças e batuques, misto de temor e encantamento, tinham uma tolerância homeopática. No plano da discussão oficiosa, eram consideradas como homenagem aos santos católicos em dialeto tribal. Havia também a justificativa, por trás dessa tolerância, de que, enquanto os escravos mantivessem vivas as suas tradições, manteriam também as rivalidades entre escravos vindos de nações inimigas na África, o que dificultaria a organização de rebeliões. Prova disso é que alguns negros eram utilizados como capitães-do-campo, como no caso dos mandingas que, sendo islâmicos se julgavam superiores aos demais povos politeístas.
      Entretanto, a maioria das religiões trazida pelos escravos tinha aspectos mágicos, o que não era tolerado pela Igreja Católica. A religiosidade dos negros consistia na crença de que divindades incorporavam em seus filhos, os homens. Os sacerdotes, fazendo uso de ervas, amuletos, sacrifícios de animais e invocações secretas, podiam entrar em contato com os deuses, fazer curas, conhecer o futuro e mudar o destino das pessoas. Essas práticas eram associadas, no imaginário dos padres, a cultos demoníacos.

Contudo, com o crescimento das cidades e o aumento do número de negros libertos, mulatos e escravos urbanos (que nelas circulavam com maior liberdade e autonomia em relação aos escravos das fazendas), as manifestações religiosas encontraram melhores condições para se desenvolverem. As moradias dessa população... tornaram-se ponto de encontro e de culto, relativamente resguardados da repressão policial. (SILVA, 1994, Pág. 48)
     Com o declínio do poder dos Tribunais da Inquisição e por influências das idéias da Revolução Francesa, a Igreja deixa de perseguí-los e após a Independência do Brasil, a constituição de 1824 garantiu liberdade de culto desde que não ostentasse símbolos nas fachadas, atitude esta que visava favorecer principalmente estrangeiros não católicos.
     Essa miscigenação de crenças indígenas, africanas e católicas, deu origem a diversas formas de cultos mestiços que se espalharam por todo o país, praticados geralmente pelos grupos sociais mais pobres e excluídos da sociedade brasileira.
 Em outro momento histórico, vindo da Europa, surge outra visão sobre a vida e a morte, que muito contribuirá para a formação da Umbanda nos moldes popularmente conhecidos hoje: o Kardecismo.      O Espiritismo Kardecista surgiu na França em meados do século XIX, através Allan Kardec, (pseudônimo de Léon Hippolyte Dénizart Rivail) cientista que buscava sustentar esta doutrina em bases científicas e filosóficas segundo seu ideário, atribuindo esta mesma doutrina aos espíritos de pessoas desencarnadas.  Kardec buscou aplicar seu raciocínio científico as questões espirituais, aos fenômenos considerados mágicos, contrapondo-se aos objetos de estudo dos cientistas de sua época e ainda dos atuais.
     Para o antropólogo James Frazer, a magia está na origem da ciência moderna, porém, o antropólogo Lévi-Strauss se recusa a reduzir a magia a uma forma rudimentar de ciência.
Para ele [Lévi-Strauss], magia e ciência não são tipos de pensamentos que se opõem, nem a primeira é um esboço da segunda. São dois sistemas de pensamentos articulados e independentes, semelhantes quanto ao tipo de operações mentais que exigem, mas diferentes quanto ao tipo de fenômenos a que se aplicam. (MONTERO, 1990, Pág.56)
     Porém, Kardec, contrariando o que mais tarde diria Lévi-Strauss, tenta trazer à lógica científica a análise de fenômenos, até então, só especulados nos meios ditos mágicos.

     Podemos relacionar as principais teorias defendidas por Allan Kardec da seguinte forma:

• “Os seres materiais constituem o mundo visível ou corpóreo, e os seres imateriais, o mundo invisível ou espírita, isto é, dos Espíritos.
 • O mundo espírita é o mundo normal, primitivo, eterno, preexistente e sobrevivente a tudo.
• O mundo corporal é secundário; poderia deixar de existir, ou não ter jamais existido, sem que por isso se alterasse a essência do mundo espírita.
• Os Espíritos revestem temporariamente um invólucro material, perecível cuja destruição pela morte lhe restitui a liberdade.
• A alma é um Espírito encarnado, sendo o corpo apenas o seu envoltório.
• Há no homem três coisas: 1º, o corpo ou ser material análogo aos animais e animado pelo mesmo princípio vital; 2º, a alma ou ser imaterial, Espírito encarnado no corpo, e 3º, o laço que prende a alma ao corpo, “princípio intermediário entre a matéria e o Espírito”.
• Têm assim o homem duas naturezas: pelo corpo, participa da natureza dos animais, cujos instintos lhe são comuns; pela alma, participa da natureza dos Espíritos.
• O laço ou períspirito, que prende ao corpo o Espírito, é uma espécie de invólucro semimaterial. A morte é a destruição do invólucro mais grosseiro. O Espírito conserva o segundo, que lhe constitui um corpo etéreo, invisível para nós no estado normal, porém que pode tornar-se acidentalmente visível e mesmo tangível, como sucede no fenômeno das aparições.
• O Espírito não é, pois, um ser abstrato, indefinido, só possível de conceber-se pelo pensamento. É um ser real, circunscrito, que, em certos casos, se torna apreciável pela vista, pelo ouvido e pelo tato.
• Os Espíritos pertencem a diferentes classes e não são iguais, nem em poder, nem em inteligência, nem em saber, nem em moralidade. Os da primeira ordem são os Espíritos superiores, que se distinguem dos outros pela sua perfeição, seus conhecimentos, sua proximidade de Deus, pela pureza de seus sentimentos e por seu amor do bem: são os anjos ou Espíritos puros. Os das outras classes se acham cada vez mais distanciados dessa perfeição, mostrando-se os das categorias inferiores, na sua maioria, eivados das nossas paixões: o ódio, a inveja, o ciúme, o orgulho etc. Comprazem-se no mal. Há também, entre os inferiores, os que não são nem muito bons nem muito maus, antes perturbadores e enredadores, do que perversos. A malícia e as inconsequências parecem ser o que neles predomina. São os Espíritos estúrdios e levianos.
 • Os Espíritos não ocupam perpetuamente a mesma categoria. Todos se melhoram passando pelos diferentes graus da hierarquia espírita. Esta melhora se efetua por meio da encarnação, que é imposta a uns como expiação, a outros como missão. A vida material é uma prova que lhes cumpre sofrer repetidamente, até que hajam atingido a absoluta perfeição moral.
• Deixando o corpo, a alma volve ao mundo dos Espíritos, donde saíra, para passar por nova existência material, após um lapso de tempo mais ou menos longo, durante o qual permanece em estado de Espírito errante.
• Tendo o Espírito passado por muitas encarnações, segue-se que todos nós temos tido muitas existências e que teremos ainda outras, mais ou menos aperfeiçoadas, quer na terra, quer em outros mundos.
• As diferentes existências corpóreas do Espírito são sempre progressivas e nunca regressivas; mas, a rapidez do seu progresso depende dos esforços que faça para chegar à perfeição.
• Na sua volta ao mundo dos Espíritos, a alma encontra todos aqueles que conhecera na Terra, e todas as suas existências anteriores se lhe desenham na memória, com a lembrança de todo bem e todo mal que fez.
• O Espírito encarnado se acha sob a influência da matéria, o homem que vence esta influência, pela elevação e depuração de sua alma, se aproxima dos bons Espíritos, em cuja companhia um dia estará. Aquele que se deixa dominar pelas más paixões, e põe todas as suas alegrias na satisfação dos apetites grosseiros, se aproxima dos Espíritos impuros, dando preponderância à sua natureza animal.
• Os Espíritos encarnados habitam os diferentes globos do universo.
• Os não encarnados ou errantes não ocupam uma região determinada e circunscrita, estão por toda parte no espaço e ao nosso lado, vendo-nos e acotovelando-nos de contínuo. É toda uma população invisível, a mover-se em torno de nós.
• Os Espíritos exercem incessante ação sobre o mundo moral e mesmo sobre o mundo físico. Atuam sobre a matéria e sobre o pensamento e constituem uma das potências da natureza, causa eficiente de uma multidão de fenômenos até então inexplicados ou mal explicados e que não encontram explicação racional senão no Espiritismo.
• As relações dos Espíritos com os homens são constantes. Os bons Espíritos nos atraem para o bem, nos sustentam nas provas da vida e nos ajudam a suportá-las com coragem e resignação. Os maus nos impelem para o mal; é-lhes um gozo ver-nos sucumbir e assemelhar-nos a eles.
• As comunicações dos Espíritos com os homens são ocultas ou ostensivas. As ocultas se verificam pela influência boa ou má que exercem sobre nós, à nossa revelia. Cabe ao nosso juízo discernir as boas das más inspirações. As comunicações ostensivas se dão por meio da escrita, da palavra ou de outras manifestações materiais, quase sempre pelos médiuns que lhes  servem de instrumento.
• Os Espíritos são atraídos na razão da simpatia que lhes inspire a natureza moral do meio que os evoca. “Os Espíritos superiores se comprazem nas reuniões sérias, onde predominam o amor do bem e o desejo sincero, por parte dos que a compõem, de se instruírem e melhorarem. A presença deles afasta os Espíritos inferiores que, inversamente, encontram livre acesso e podem obrar toda a liberdade entre pessoas frívolas ou impelidas unicamente pela curiosidade e onde quer que existam maus instintos. Longe de se obterem bons conselhos, ou informações úteis, deles só se devem esperar futilidades, mentiras, gracejos de mau gosto, ou mistificações, pois que muitas vezes tomam nomes venerados, a fim de melhor induzirem ao erro”. (KARDEC, 1977, Introdução - Parte IV)
     Segundo essa leitura, Deus é único, onipotente, onisciente e onipresente e utiliza seus filhos mais elevados, os Espíritos perfeitos ou que estão mais próximos da perfeição, para levar os seus desígnios aos filhos menos elevados. Os Espíritos elevados também podem realizar curas e orientar os consulentes em suas decisões, através de médiuns, indicando-lhes o melhor a fazer.
     O Espiritismo Kardecista também acredita auxiliar, através de esclarecimentos e doutrinações evangélicas, os espíritos sofredores, pessoas que durante sua encarnação não se pautaram pelas boas ações e que, no mundo espiritual, sofrem os efeitos de seus atos através de expiações diversas. É possível doutrinar, amansar os espíritos perversos, que praticam a maldade mesmo depois da morte do “corpo físico”, através de más influências sobre os que ainda estão encarnados.
     Essa leitura sobre as questões fundamentais da humanidade teve pouca aceitação na Europa. Já no Brasil foi mais aceita logo depois de seu surgimento, por pessoas das categorias médias da população. A partir de um certo momento passará a servir de mediador para a constituição da Umbanda, como veremos no tópico seguinte.

A UMBANDA POPULAR

     Segundo algumas interpretações, alguns espíritos que costumavam manifestar-se em cultos afros começaram então a aparecer em sessões kardecistas, ocorrendo também o inverso. Para ilustrar como se dá este fato, vejamos a história de um dos mais conhecidos terreiros de Umbanda do Rio de Janeiro, o Centro Espírita Nossa Senhora da Piedade.
     Fundado em meados da década de 1920 em Niterói, posteriormente se transferindo para o Rio de Janeiro onde se localiza até hoje, teve como principal fundador Zélio de Moraes, que juntamente com um grupo de Kardecistas insatisfeitos...
[...] empreenderam visitas a diversos centros de “macumba” localizados nas favelas aos arredores do Rio e de Niterói. Eles passaram a preferir os espíritos e divindades africanas e indígenas presentes na “macumba”, considerando-os mais competentes do que os altamente evoluídos espíritos kardecistas na cura e no tratamento de uma gama muito ampla de doenças e outros problemas. Eles achavam os rituais de “macumba” muito mais estimulantes e dramáticos do que os do kardecismo, que comparados aos primeiros lhes pareciam estáticos e insípidos.(BROWN, 1985, Pág. 11)
     Por outro lado consideravam bárbaros na macumba os sacrifícios de animais, as bebedeiras, a presença de espíritos diabólicos e a exploração econômica dos clientes.
Centros de Umbanda, como o Nossa Senhora da Piedade, preservaram a concepção kardecista do carma (lei de ação e reação) e da evolução espiritual. No entanto, deram ênfase a espíritos africanos e indígenas, representados principalmente pelos ditos preto-velhos e caboclos, considerados pelos kardecistas da época como atrasados. Em relação às bebidas alcóolicas, fumo e pólvora, quando se fazia necessário o seu uso, explicava-os cientificamente segundo o discurso racional dos kardecistas.
     No caso da bebida alcóolica, seu uso era justificado argumentando-se que esta tinha uma ação e vibração anestésica e fluídica devido a sua evaporação, o que propiciava as descargas (limpeza) das pessoas ou objetos impregnados de fluidos pesados ou negativos. No caso da fumaça do fumo ou dos incensos, explica-se que, sendo esta um gás, poderia destruir um fluido mau ou nocivo presente num ambiente, substituindo-o por outro fluido, bom e favorável. A explosão da pólvora, por sua vez, ao propiciar a deslocação de ar, atingia os espíritos perturbadores, que então se afastavam.(ORTIZ, 1978, Pág. 155)

     É importante ressaltar que estas explicações não se estendem a todos os Terreiros, visto não haver uniformidade de culto na Umbanda, uma vez que, de acordo com as origens e número de africanos, de indígenas e de brancos em cada região do país, encontraremos uma ampla variação de cultos mistos como: Batuque, Xangô, Tambor de Mina, Cabula, Candomblé, Candomblé de Angola, Candomblé de Caboclo, Macumba, Catimbo, Pajelança, Mesa de Cura, etc.  Após as giras de Umbanda ficarem famosas e visivelmente melhor aceitas pela população em geral do que os demais cultos afro-brasileiros, muitos praticantes destes cultos passaram a usar a denominação de Umbandistas e seus locais de culto passaram a ser chamados de Terreiros de Umbanda. Porém, este processo de adesão ao título de Umbandista nem sempre foi acompanhado pela adesão às práticas, mesmo porque não existe uma definição comum de onde estas começam e onde terminam. É provável que a Umbanda não se tenha formado a partir de um único terreiro irradiador, o que fez com que cada novo “terreiro” criasse um culto a sua maneira, embora, em suas bases, fossem semelhantes.
     Entre a diversidade de formas de cultos que, então, vinham surgindo na Umbanda, encontramos um novo segmento, praticado por pouquíssimos terreiros, que trata a Umbanda como magia universal e apresenta a sua origem como uma religião mais antiga que os próprios cultos africanos, nascida nos lendários continentes perdidos da Atlântica e da Lemúria.

A UMBANDA ESOTÉRICA

     Para melhor entendermos a Umbanda Esotérica se faz necessário tratarmos primeiramente sobre seu mito do povoamento do planeta.
Nos primórdios da Era Terciária do Cenozoico, em pleno Planalto Central Brasileiro, em meio a primatas e antropoides, surge a primeira humanidade, a Raça Vermelha,... também conhecida por Tronco Tupy. Essa primeira raça, considerada um verdadeiro laboratório genético, foi chamada de Raça Pré-Adâmica. (TRINDADE, 1994, Pág. 45)
     Na raça vermelha a Iniciação nos Mistérios ou Conhecimentos compreendia dois níveis, subdivididos em 7 graus. Do 1º ao 5º grau tínhamos os Mistérios ou Conhecimentos Menores e do 6º ao 7º tínhamos os Mistérios ou Conhecimentos Maiores. Os Iniciados nos Conhecimentos Maiores eram chamados de Tubaguaçus, condutores da Raça Vermelha.
     Cabe ressaltar “que o próprio planeta, na época, era uno em seus aspectos geofísicos”. (RIVAS NETO, 1999, Pág. 44). Ainda não havia ocorrido a cisão entre os continentes que então formavam um bloco único.

A forma humana mais aperfeiçoada ocorre na raça subsequente, a Raça Adâmica. Nessa raça, juntamente com os “Filhos da terra”, começam a encarnar os "Estrangeiros", provenientes de planetas da própria galáxia. (TRINDADE, 1994, Pág. 45)
     Os Espíritos Estrangeiros eram mais evoluídos e por isso ensinaram muitas coisas às tribos primitivas onde encarnaram, como a Língua Boa, polissilábica e eufônica, que obedecia a um metro sonoro divino, base de todas as línguas que seriam faladas na terra. Esta língua era chamada de Abanheenga.
Embora surgissem em território onde hoje fica o Brasil, essas raças migraram, para as demais regiões do globo.
      Após a raça Adâmica surge a Terceira Raça raiz, a Raça Lemuriana , também considerada de grande evolução moral. Cultuavam um Deus Único denominado TUPAN, e eram conhecedores do Mistério Solar, do Messias - O Cristo Cósmico. Nessa raça também ocorre à conscientização e aplicação das leis divinas chamadas naquele tempo de AUMBANDAN – O Conjunto das Leis Divinas.
     “ A Raça Lemuriana dá lugar a Raça Atlante”. (TRINDADE, 1994, Pág. 46) Com isto queremos dizer que esta teria tido um fim por motivos geológicos, passando a Raça Atlante, homens de pele vermelha, a ser a raça predominante em número e em avanço no planeta. Porém alguns remanescentes lemurianos sobreviveram ao fim de seu continente, migrando para a África, Oceania e sul da índia.
     Segundo os Umbandistas Esotéricos, no final da raça Atlante, a dinâmica reencarnatória dos Iniciados nos Mistérios Menores e do Tubaguaçus diminui vertiginosamente. Isso, somado ao fato de que começa haver a reencarnação de seres de baixa estirpe, que cultivavam desejos mesquinhos, tais como a vaidade, o egoísmo, a inveja e, principalmente, a prática de Magia Negra , fez com que o padrão moral-vibratório decaísse, chegando a quase zero. Houve grandes guerras, levando ódio e sangue a lugares antes considerados sagrados. Devido a estes fatos apontados pelo mito, a Terra reage, tentando expulsar seus "marginais". Ocorrem grandes catástrofes, continentes inteiros afundam no mar enquanto outros surgem, ocorrem as cisões geológicas separando continentes, tal qual ocorre com os ideais dos homens, antes unidos e “agora” distanciados uns dos outros.
     Ainda segundo o mito, antes de deixarem de reencarnar, os Tubaguaçus, prevendo a inversão dos valores morais e espirituais sentiram necessidade de ocultarem a Tradição do Saber, o Aumbandan, guardando-os em seus Grandes Templos Iniciáticos. Cunharam 78 placas de nefrita em alfabeto Abanheenga, as quais foram enterradas em território onde hoje fica o Brasil. Posteriormente os egípcios grafariam 78 placas de ouro contendo, de forma velada, a Tradição do Saber, embora esta Tradição já não tivesse mais a sua pureza primitiva. Esses conhecimentos velados receberam, então, o nome de Tarot e Kabalah, sendo desdobrada em duas formas (57 Arcanos Menores e 21 Arcanos Maiores) que, posteriormente Moisés transformaria em 56 Arcanos Menores e 22 Arcanos Maiores, supostamente porque seu alfabeto o Hebraico tinha 22 letras.
      Voltando aos tempos da Atlântida; em meio à decadência em que esta se encontrava, houve a cisão do Tronco Tupy. Os remanescentes deste Tronco foram os Tupynambás e os Tupys-Guaranís. Os Tupys-Guaranís adulteraram a Tradição, deturpando-a e tornando-a cada vez mais distante de sua pureza original, enquanto que os Tupynambás a conservaram, dando lhe o nome de Tuyabaé-Cuaá. Os Tupynambás vieram a se instalar nas regiões sudeste e sul do Brasil, enquanto que os Tupys-Guaranís se instalaram nas demais regiões da América e posteriormente migraram para outras regiões. Essas migrações se explicam no discurso mítico, principalmente, pelo processo reencarnatório.
     Os Tupys-Guaranís, apesar de terem deturpado completamente a Tradição Oculta, ainda apresentavam grande superioridade, levando evolução aos locais em que reencarnavam. Em suas migrações, atingiram o oriente, chegando à China, Tibete, Índia, influenciando o desenvolvimento dessas civilizações e também sendo influenciados por elas.
     Essa miscigenação fez com que os Tupys-Guaranís pervertessem ainda mais a Tradição do Saber, o que levou os Tupynambás a reencarnarem no seio da África, entre os egípcios, que também eram remanescentes dos Atlantes, e lá se tornarem sacerdotes de Osíris e Ísis, influenciando toda a África, principalmente o povo Banto, que depois retornaria ao Brasil pelo processo escravagista. Foi através dos Tupynambás que foram grafadas as 78 placas de ouro no Egito, conforme já relatado. 
As reencarnações dos Tupynambás no Egito e também na Índia permitiram a fusão com os Tupys-Guaranís, que chegam a esses locais já recuperados e reintegrados a Lei”. (TRINDADE, 1994, Pág. 48)
     Os povos africanos, assim como os índios brasileiros, são herdeiros da Tradição do Saber, o Aumbandan, mas, quando se dá o descobrimento do Brasil, as crenças destes povos já se achavam, novamente, deturpadas, permanecendo pouco do Conhecimento Oculto original.
     Segundo a interpretação da Umbanda Esotérica, os portugueses, seguindo desígnios divinos, aqui aportaram para, sem o saber, unir novamente todas as raças, pois foi aqui que surgiu, pela primeira vez na terra, o Aumbandan. Utilizando-se dos poucos conceitos da Tradição que ainda havia entre os negros, brancos e índios e que ainda não haviam sido completamente deturpados, os Espíritos responsáveis pela restauração do Aumbandan foram, através de médiuns, alicerçando as bases do Movimento Umbandista, que numa primeira fase, visa abarcar o maior número de pessoas, no menor espaço de tempo possível, não selecionando valores.
     Eis então que a Umbanda surge, não sendo o próprio Aumbandan, mas sim um movimento de restauração deste, e que busca evoluir até atingir esta meta. Daí se explicaria o inicial sincretismo religioso, o posterior surgimento do culto de Umbanda Popular e em seguida o surgimento da Umbanda Esotérica que busca se aproximar, mais diretamente, da religião primitiva, da Tradição do Saber.


MAPA DAS MIGRAÇÕES




NOTAS

1 A raça Pré-Adâmica foi, segundo esta teoria, a ancestral dos povos americanos. É chamada de Pré-Adâmica, pois se acredita que seja anterior a raça que, segundo as tradições bíblicas, pertenceu o homem chamado Adão. Nega-se assim o surgimento da humanidade através deste mesmo Adão.2 A raça Lemuriana recebeu este nome, pois surgiu num antigo continente, tragado pelos oceanos, que se chamava Lemúria. Este continente ficava entre o que hoje conhecemos por África e Oceania. Foi esta raça a ancestral da raça negra.3 Conhece-se por Magia Negra o uso do conhecimento das leis que regem o "Mundo Espiritual" para atender fins escusos, que beneficiem alguns em prejuízo de outros. 

Este texto  é parte do 'Trabalho de Conclusão de Curso' do Historiador Cláudio Michelato apresentado na UNESP - Campus de Franca, para obtenção de Licenciatura e Bacharelado em História. 



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