Trabalho como médium de
Umbanda há alguns anos e, até hoje, não me acostumo com a confusão que existe
em função das entidades usarem nosso corpo. O preto velho vem, trabalha e, como
é de sua característica, comove com sua doçura e candura. Aquela entidade se
torna importante para as pessoas que ele atende. Torna-se o vovô dos contos de
fada, que nos dá colo e carinho e, quando precisamos, sempre tem um jeitinho
meigo de colocar nossos pés no chão. Aprendemos a amar. Quando percebemos, já
tomou conta dos nossos corações.
O Caboclo desce com seu
brado e encanta com sua beleza e sua força. Todos os respeitam por tudo que ele
representa. Uma entidade em completa comunhão com a natureza e com a vida.
Mostrando-nos em que seres humanos devemos nos tornar. É um espelho de como se
deve agir.
A criança, com sua pureza
de coração e suas brincadeiras, é a prova viva que existem sim espíritos que
amam somente por amar. Fazem “arte” e alegram nossos corações com travessuras
juvenis. São verdadeiros doutores, que trazem dignidade ao espírito com sua
simplicidade e curam as chagas abertas em nossos corações.
O Exu, aquele que é tão
polêmico entre os que não o compreendem, verdadeiro guardião, amigo leal que
trabalha no cumprimento da lei de Deus. Guerreiros do astral, estão sempre
olhando e intervindo por nós. São os verdadeiros anjos da guarda. Ajudam-nos no
progresso e nos dão força para nos reerguermos nas quedas. Todos podem te
abandonar, o mundo pode ser cruel e te tirar tudo, mas ele sempre estará ao seu
lado. Amigo querido, o que seria das nossas vidas sem eles?
E são tantos outros, que
provavelmente um texto viraria um livro. Malandros, baianos, boiadeiros,
marujos, ciganos, orientais, etc. Cada um com sua característica, com uma
história, com um carinho especial. Palavras não conseguem descrever a real
participação que estes guias têm na vida de seus “filhos”.
Sabendo disso tudo, que
digo que não me acostumo com a confusão que existe quando o guia vai e ficamos
apenas nós, os “cavalos”. Quem dera se eu fosse uma pontinha de cada um deles.
Mesmo estudando muito, presenciando atendimentos como um telespectador que
somos nós médiuns, ainda hoje me surpreendo com as palavras ditas por eles. O
problema é que quando o consulente, que ama aquela entidade, chega perto de
você, confundindo com o guia que há alguns minutos recebeu, ele se decepciona,
pois logicamente ainda temos muita estrada pela frente para chegar perto do que
eles alcançaram. Por isso médiuns, que o estudo tem de ser constante e o
aprendizado eterno, mas com afinco de sempre tentar mais e mais sermos pessoas
melhores.
Devemos isso a esses guias
que se utilizam de nós para realizar este trabalho. Devemos isso ao consulente
que vai buscar consolo para suas dores em nossa casa, confiando e amando.
Devemos isso a esta religião que nos acolhe de braços abertos.
O médium de Umbanda tem
que estar sintonizado com os ensinamentos dos guias que ele incorpora. Não é
sem motivo que seu corpo se faz templo para a passagem dessas entidades de
tamanha iluminação. O médium deve ser um livro onde os ensinamentos ficam
registrados e a forma de lermos todos esse saber se faz nas obras que esse
médium constrói e no exemplo que ele se torna aos outros.
Ser médium não é só sentar
no toco e servir de marionete. Ser médium é muito mais que isso. Quem aprende a
ser um verdadeiro médium se torna um verdadeiro umbandista e um verdadeiro
cristão. Ser médium não é um dever e sim uma oportunidade. Só quem é médium de
verdade sabe da dádiva que é estar neste contexto. Estamos sentados no
“camarote vip” da espiritualidade, bebendo a água mais cristalina nessa fonte
antes de todos.
Então, meus irmãos,
abracem essa oportunidade com todo amor e dedicação para que todos saibam a
satisfação e a honra que é estar neste lugar privilegiado.
Texto Marco Farnezi
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