sexta-feira, 6 de abril de 2012

INFLUÊNCIA DOS CIGANOS

É muito comum misturar as informações sobre estas culturas. Desde que os ciganos se espalharam pelo mundo, é comum fazer confusões com suas danças nos países pelos quais passaram ao longo do tempo.

Já se sabe que os ciganos partiram do norte da Índia há quase 3000 anos e que estão hoje em todos os continentes. Chegaram em duas caravanas na Europa: uma que veio pelo Mediterrâneo passando pelo Egito, e outra que veio contornando toda a Ásia caindo na Espanha por Barcelona. O importante é saber que eles pousaram ali e lá uma parte se estabeleceu encontrando eco na Andaluzia, sul da Espanha e em especial em Granada. São os conhecidos Calons que também estão presentes em parte do sul da França e em Portugal.

Cabe mencionar que o cigano trás de berço o domínio das artes em toda sua plenitude: o canto,a dança, a música, as artes circenses, as artes manuais e as artes divinatórias.

É um povo aglutinador e transformador de culturas no sentido de que absorvem transformam ao seu jeito misturando sua própria cultura a do local por onde passa e praticamente dizendo-se dono dela ao relançá-la novamente. Não é o mérito da questão. Vale mencionar que o cigano aprendeu e misturou as culturas de vários países à sua própria. É aonde vemos tamanha diversidade no seu vestir, na função principal (trabalho) que caracteriza o dá (clã) e na sua dança. A língua é comum, pois a base da fala está em todos os dás(clãs) que é o romani. E “ROM” é a forma ideal de chamar por qualquer cigano.

Precisamos saber de que dá (clã) um cigano pertence para saber que dança ele faz. Por exemplo: uma grega terá características muito próximas da cultura local e, mesmo assim, com particularidades sobre o vestir, comer, falar e comportamento religioso assim como um cigano húngaro que toca violino e suas romis dançam rodopiando suas saias multicoloridas.

O Flamenco é uma arte surgida por um processo de miscigenação e fusão das culturas árabe, judaica, africana, de espanhóis pobres e migrantes além do próprio cigano. Este, por sua vez, é responsável por essa fusão que acontecia na clandestinidade, na marginalidade por serem sempre perseguidos por onde passavam. O Flamenco é um misto dessas culturas, mas que se deve sua difusão e explosão aos nossos queridos calons espanhóis: os famosos gitanos. De seu lamento e sua explosão alegre e vivaz, surge essa arte que envolve e contagia os povos do mundo; sejam ciganos ou gajões (payos na língua dos gitanos e que significa “não-cigano”). Seu jeito peculiar e único transcende as lógicas da racionalidade e mergulha no âmago da alma humana, comum a toda e qualquer etnia mesmo sabendo que os espanhóis do sul são os mais calientes. Mas as ciganas de lá ainda respeitam o uso do lenço na cabeça apesar de não ligarem tanto. A rosa presa na cabeça fala mais alto quando se quer saber se é ou não casada.

Basicamente calcados em bailes com taconeados e acompanhados pela guitarra, o Flamenco tem toda a sua essência gerada através do cante que é sua raíz. O violão, que nasceu na própria Espanha, veio com o passar do tempo e a dança foi criada pelo cigano espanhol misturando suas danças de herança com algumas danças espanholas da região. Calé é a língua oficial deste povo que misturou o romanes ao espanhol e ao catalão, em raras exceções com o árabe, dando origem a uma língua espetacular e típica desses ciganos espanhóis.

Confunde-se muito o Flamenco com as outras danças espanholas. Levamos em consideração que a Espanha possui quatro escolas de danças diferentes entre si onde o Flamenco é uma delas. Na sua forma mais pura, não se usa castanholas por estar distante da realidade flamenca e sim os pitos (estalar dos dedos), mas não se proíbe seu uso desde que não interfira na alma flamenca. Inclusive porque a castanhola é uma interferência acadêmica e foi inserida por uma bailarina clássica espanhola que fazia flamenco. A tão famosa La Argentinita. Depois os outros artistas foram incorporando o uso segundo sua vontade assim como outros instrumentos. Dentro da cultura cigana as mulheres não exibem suas pernas por questões culturais. É comum vê-las com muitas saias longas. Porém as ciganas espanholas são as únicas que o fazem durante suas danças enérgicas e pela necessidade de levantá-las para sapatear mesmo usando uma anágua comprida quase do tamanho da saia principal. Existiu uma bailaora (dançarina) chamada La Chunga que dançava descalça nos tablados dos anos 50/60 e que hoje é uma artista plástica que retrata sua cultura. Isso também fez com que os calons fossem visto de forma diferenciada pelos outros grupos ciganos, visto que eles se misturaram com o povo local casando-se algumas vezes com payos (não-cigano).

Existem alguns ritmos como a Zambra e a Alboreá que são exclusivos dos gitanos (cigano espanhol) e que se incorporam ao contexto Flamenco sendo considerados “aflamencados” assim como outras danças espanholas que recebem influências flamencas como as Sevillanas, as Rumbas, Garrotins e as Farrucas que foram recriadas por eles.

Então sabemos que o Flamenco é a dança do Cigano Espanhol. Não se deve confundir com as outras danças espanholas e achar que toda dança espanhola é flamenca; nem tampouco achar que os ciganos de outros países saibam e façam o Flamenco; o que é exclusivo dos calons espanhóis. Aqui no Brasil quando se fala de dança cigana há uma mistura de elementos e até das próprias vestes. Levamos em consideração que hoje o Brasil é o encontro de todas as raças do mundo e não será abusivo ver que muitos ciganos e admiradores misturam tudo, salvo alguns dás que mantêm sua arte intacta apesar da facilidade de qualquer um se declarar e dizer descendente de ciganos vestindo-se e fazendo uso desta etnia e, muitas das vezes, sob orientação religiosa espiritual; ao qual devemos respeitar muitíssimo mas que não é de bom tom no lado comercial.

Amo esse povo, respeito e admiro sua cultura e sua arte. Tenho consciência de meu lugar e sei que estamos muito próximos.

"Queria ter nascido cigano, mas como disse uma vez Olga Petrovich numa consulta na praça XV no centro do RJ há muitos anos, “não dá pra ser de novo o que já fomos um dia a não ser que seja necessário ainda cumprir missão no meio de nós. Seguir o caminho é a única herança que se tem seja ele qual for. Você pode ter sido um de nós mas só Dhiel (Deus) e seu filho Kristeskro (Cristo) sabem da verdade.”

Eu sou Ricardo Samel, payo, descendentes de turcos mulçumanos que fugiram para Itália (muito antes dos ciganos chegarem a Espanha) por causa da conversão ao catolicismo. Lá a família “El Samelli”, que já havia passado pelo judaísmo virando “Samuel”, converteu-se em “Samello” e “Samela” chegando a América tornando-se “Samuels” e “Samel” onde estamos distribuídos desde o Canadá até os confins deste continente.

- Esse texto maravilhoso, sobre esse Povo maravilhoso que tanto amo e assim como ele também nesta encarnação não nasci cigana, mas não por acaso também tenho descendência espanhola...e aqui reproduzi, até porque tenho paixões exatamente pelos ciganos espanhóis e indianos, leia-se paixões pelo Flamenco principalmente. (Ana Cirene) Encontrei postado em:

Flamenco y Moda, Um pouco de Moda, de Flamenco, Pensamentos e de Vivências… por Ricardo Samel

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